Autopsicografia
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
(Presença, n.36, Novembro de 1932)
Um comentário:
Chega ser interessante, minha mãe viajou, quando vejo a lembrancinha (camiseta)dou de cara com a frase:"O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente." De quem eu lembro? Da sua pessoa, lógico.
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