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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Arte de Perder

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perde-las, quer perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta tolamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subsequente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério

Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios e mais um continente.
Tenho saudade deles, mas não é nada sério.

- Mesmo perder você (a voz risonha que
eu amo) não muda nada. É evidente que 
a arte de perder não é tão difícil de aprender
embora possa parecer bastante séria.

Elizabeth Bishop, 4 de novembro de 1975.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pessoa

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra,
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Desdiálogo

O tempo não deu.
Foi mesquinho
E escondeu
O que tão procurado foi
Por este que
Pela primeira vez
O coração entregou.

O diálogo sempre foi problemático
Códigos diferentes resultaram
Desentendimentos fatigantes,
Assassinos.

Matam-se sempre que falam
O que ambos desejaram,
Impedidos porém por uma
Persistente diacronia.

Mas o que poderiam fazer?
Andam sempre à mercê dos passos próprios.
Sem guias ou cartilhas para ensinar
O soletrar de vocábulo
Tão mal explicado
Tão desejado
Tão platonizado
Tão enganado
Tão desconhecido


Aprendem às penas do aprender.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Fernando - Motto

Autopsicografia

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração

(Presença, n.36,  Novembro de 1932)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sotnemitnes

Dominando esses monstros.
Ofensivamente gritam pelo domínio.

E o que fazer?
Afinal mandam eles, os poderosos,
Diante de quem o todo
Se prosta.
Se submete.
Se guia.
Se rende.

São eles os vilões, tomam conta de tudo.
Causam dor e espanto.
Calor e pranto.

domingo, 21 de novembro de 2010

Belas Dores

"... Ame a sua solidão, suporte as penas que dela vierem, 
e, se essas penas lhe arrancarem queixas, 
que sejam belas essas queixas. 
Alegre-se da sua marcha em frente: 
ninguém poderá acompanhá-lo. 
Seja bom para os que ficarem atrás, 
senhor de si e tranquilo perante eles. 
Não os atormente com as suas dúvidas, 
não os assuste com a sua crença, com o seu entusiasmo, 
porque não poderiam entendê-lo. 
Procure comungar com eles na simplicidade e na fidelidade. 
Não lhes peça conselho. 
Renuncie a que o compreendam. 
Acredite somente nesse amor que lhe pertence como um bem de raiz. ..."


Rainer Maria Rilke

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

D'outro

"Poeta, a quem gritas teus versos?
Guarda-te em tua luta, 

nao traga para si aqueles que felizes estão.
Estrangulem-te as palavras, 

mas que sejam soltas a ninguém, somente a ti.
Arranhe-se por dentro, infeliz sonhador. 

Infeliz tentador. Infeliz pecador."

Barreira Caiado

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Donné à Moi

Je crois
Que tu vois
Mon coeur
Que tu as refusé
Que J'ai fermé
Pour toi
Ne pas me juger

domingo, 1 de novembro de 2009

Despertar

Sim, eu o vejo.
E não seja ingênuo a ponto de fechar os olhos
e pensar que assim o futuro se esconde de você.
Seus 13 há muito estão longe.
E o mais irritante é perceber que só não de si.
Quando é que se abrirá a perceber que só não morrem
os que já mortos estão?

domingo, 30 de agosto de 2009

Lembra?

Cantarolando músicas que não conhece recebe advertência da dor ao seu lado.
Desculpa-se por se sentir tão bem. Talvez culpa-se por estar tão feliz.
Alegre, projeta os próximos meses e anos. Novo céu, novo teto, nova cor.
A dança salta de seus olhos. O brilho é desejado. A resposta invejada.

O coração de cá descansa. Encontra a paz que tanto te desejou nesse tempo.
Encontrou.

Os demônios estão presos em outro reino. A podridão faz parte do seu passado. É você, te faz forte.
Sabe quem é e onde vai. Critica. Acusa. Aponta. Ajuda. Amolece.

domingo, 23 de agosto de 2009

Borrowed


A Alma

Nada pode mudar o que se passou, aquilo que foi sofrido e que se anotou.
Nada pode anular as coisas feitas e que se consumaram.
Nada pode retardar ou impedir as consequências de se tornarem presente amargo ou vinho doce.

Nada pode abreviar o mísero segundo daquilo que se deseja muito.
Nada pode adiantar os dias que ainda não chegaram, mesmo sendo perfeitos.

Nada tão implacável como o tempo.
Nada tão avassalador quanto um coração em ruínas com o amor.

Nada mais renovador que uma noite bem dormida.
Nada tão seguro quanto um abraço escolhido.
Tudo tão deslumbrante quanto o beijo do amor.

Tudo que podemos é ter fé e acreditar no dia bom depois de uma noite toda ruim.

Vinicius Presa

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Alheio

Infeliz o louco que se vê pelo olho alien.
Esculpe-se à mercê do maldito coração.
Dana-se todos os dias por não se encaixar.
Sente a dor do marginal que centralizar-se procura.

Melhor seria que acordasse.
E ao ver-se, se assumir e encontrar.
Felicitar-se por ser, existir e respirar.

Coração doído não encontra felicidade.
Mata-se constantemente e quer que os outros participem.
Mentira. Há que acordar e ver que o belo ali existe.

Seja bem-vindo, esta é sua vida.