lembrar não é voltar.
lembrar é construir.
tijolo,
argamassa,
respiração.
tudo junto.
escrevo como quem finca
firme o corpo no próprio chão.
o texto é casa:
alguns cômodos rangem,
outros ainda nem têm porta.
há paredes que escondem,
e outras que escancaram.
observo.
memória não é santidade.
é obra em andamento.
rememoro
e restauro:
faço arqueologia dos afetos,
retiro a poeira dos restos,
com um pincel fino,
com fôlego.
o trauma, madeira bruta.
a palavra, meu pulso vivo.
o corpo, meu perfume.
escrevo assim:
com martelo,
com silêncio,
com suor,
com poeira nos olhos.
um tijolo.
de cada vez.
uma palavra.
de cada vez.
respiro o ar
e minha morada
tem cheiro de mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário